Entrevista com Thinus Visser - Consultor de jogo online
Thinus Visser é um consultor de jogo online com 20 anos de experiência e enfoque na integração de produtos. Conversámos sobre oportunidades e desafios no que toca ao alargamento da oferta, do ponto de vista tecnológico e regulatório.
APAJO: Acha que hoje temos mais consciência em relação à integridade desportiva do que tínhamos há dez anos?
Manuel de la Marta: Sem dúvida que sim. A integridade tem vindo, justificadamente, a estar cada vez mais, na vanguarda do desporto nos últimos anos. E não são apenas as grandes federações que estão agora a implementar os procedimentos e sistemas corretos, mas também ligas e campeonatos mais pequenos que se esforçam por proteger-se contra ameaças de integridade o melhor que podem. Na Sportradar, estendemos os nossos serviços a todo o tipo de federações e diferentes stakeholders que apoiam a nossa visão para o desporto sem manipulação, seja através da monitorização, educação, suporte à intelligence, compliance, antidoping, ou idealmente, uma combinação destes serviços.
"A vontade política e a legislação são cruciais para enfrentar este desafio também. E para esse efeito, a Convenção sobre a Manipulação das Competições Desportivas (Convenção de Macolin) é um projeto importante, para o qual a legislação criou mecanismos de cooperação internacional e uma moldura estruturada que permite aos principais intervenientes alinharem melhor os seus esforços e coordenarem as suas ações."
APAJO: Thinus, tem trabalhado com o setor do jogo online na África do Sul, Reino Unido e Guernsey; mais recentemente, com a DaubAlderney, onde assumiu o cargo de Diretor de Produtos. No mundo online, muito impulsionado pela tecnologia, vemos novos produtos surgir a um passo rápido. Quais foram os produtos mais recentes lançados no mercado do jogo online?
TV: A esse respeito, ocorrem-me os seguintes dois tipos de produtos: (a) tecnologias focadas na proteção dos consumidores e monitorização, e (b) tecnologias que reforçam o valor do entretenimento para o consumidor, mais especificamente live dealer games por exemplo, ou e-sports, que registaram um grande aumento de popularidade desde 2016, embora principalmente nos EUA.
APAJO: E quais são os principais desafios quando se trata de integrar esses produtos num alinhamento standard?
TV: Continuando a partir dos dois tipos de produtos mencionados antes, (a) é necessário conseguir uma solução eficaz em termos de custos, individual ou de solução ‘one-stop-shop’ para assegurar e reforçar a proteção dos consumidores, em linha com a legislação contra o branqueamento de capitais, prova de liquidez financeira, origem do capital, etc., mecanismos ‘Know Your Costumer’ (identidade incluindo idade, comprovativo de residência,…), monitorização dos gastos e dos comportamentos potencialmente problemáticos. É usual o operador procurar e contratualizar com um fornecedor de uma plataforma de gestão, através da qual possa estabelecer relações com provedores terceiros para criar uma solução final adequada, ou criar a sua própria plataforma de gestão para integrar diretamente com os provedores de terceiros. Esta é uma tarefa de imenso trabalho em termos de requerimentos regulatórios. Adicionalmente, assegurar uma experiência continua para o cliente a custos razoáveis para o negócio é complicado.
"Cada integração destas tem os seus desafios técnicos com o objetivo de criar uma experiência contínua para o utilizador final sentida como natural e que se torne parte da oferta existente."
b) Os jogos Live dealer, por exemplo, somam uma dimensão muito diferente à oferta de produtos. Estes tipos de jogos levam a experiência de casino físico até à casa do consumidor. Cada integração destas tem os seus desafios técnicos, com o objetivo de criar uma experiência contínua para o utilizador final sentida como natural e que se torne parte da oferta pré-existente. O alinhamento regulatório dos fornecedores licenciados em diferentes jurisdições é, por vezes, um desafio, principalmente devido ao fluxo de informação transfronteiriço e a requerimentos específicos das diferentes entidades reguladoras. Criar foco e tempo no workflow é outra prioridade, e acom-panhar um projeto até ao final, também.
"Eu acho que, no final, é sobretudo preciso controlar através da execução de testes para diferentes tipos de jogos de acordo com as suas especificações. Deve ser baseado em requisitos regulamentares com auditorias regulares para conformidade."
APAJO: As apostas desportivas, os jogos de casino tradicionais como a roleta, blackjack ou máquinas, poker, bingo são normalmente reguladas através de todas as jurisdições, com poucas exceções. Qual o cenário para, digamos, os desportos de fantasia, esports, jogos virtuais ou live dealer no casino online?
TV: Esses novos tipos de jogos estão na sua maioria incluídos na regulação pelas jurisdições a nível global, especialmente na Europa – obviamente com algumas exceções. De acordo com o meu conhecimento, mesmo para jurisdições onde variantes de alguns tipos de jogos não estão necessariamente incluídos na regulação, não vejo que muito tenha que ser mudado para incluir esses jogos, dado que a regulamentação e recomendações existentes são em geral bastante abrangentes no sublinhar dos “dos and don’ts”, e que o que se aplica a um tipo de jogo pode facilmente ser adaptado a outra forma de jogo. Novamente, claro, com algumas diferenças específicas. A regulação alargada cobre em geral a aposta no resultado previsto de um evento, seja virtual ou ao vivo, com regras específicas aplicáveis a diferentes tipos de jogos. Eu sinto que, no final, tudo se resume a controlar, através da execução de testes para diferentes variantes de jogos de acordo com suas especificações, com base em requisitos regulamentares e aplicando o licenciamento apenas nessa medida, com auditorias regulares para monitorizar a conformidade.
APAJO: Por que pensa que algumas jurisdições são mais progressivas nesse aspeto e outras, pelo contrário, muito cautelosas?
TV: Existe uma linha fina entre a proteção ao consumidor e receitas potenciais obtidas através da introdução de “novas” variantes de jogos. As entidades reguladoras têm a responsabilidade de defender a imagem geral do país a uma escala global e também para os seus públicos locais, no que concerne ao jogo. Acredito que, com foco suficiente em ambos os lados desta questão, a inclusão de novas variantes de jogos deve ser considerada.
APAJO: Na sua experiência, produtos como o live dealer casino atraem novos grupos de consumidores ou observa-se um efeito de canibalização?
TV: Na minha experiência, como mencionado antes, os jogos live dealer introduzem uma nova dimensão na oferta de produtos, complementando e não diminuindo o foco. Geralmente, os diferentes produtos existem para atrair e apelar a diferentes audiências e, assim, a adição dos jogos live dealer é uma oportunidade para aumentar as receitas a vários níveis, através da indústria.
"A diversidade leva à estabilidade geral, e isso foi comprovado exatamente durante a Covid no que se refere aos efeitos nos negócios e na economia em geral."
APAJO: Agora, em tempos de Covid, quando vimos que um dos motores do negócio, i.e. as apostas desportivas, reduziram-se de um dia o para o outro, qual é a sua experiência? Novos produtos como os e-sports ou fantasy sports conseguiram mitigar os efeitos do confinamento ao nível do circuito dos desportos tradicionais?
TV: A diversidade leva à estabilidade geral, e isso foi comprovado exatamente durante a Covid, no que se refere aos efeitos nos negócios e na economia em geral. Sei que, com base nas estatísticas mais recentemente divulgadas, as receitas dos e-sports tiveram um aumento grande durante os períodos de confinamento em diferentes jurisdições. Acredito que alargar a regulamentação para incluir outros tipos de jogos atualmente não regulamentadas também é um meio de diminuir os operadores não licenciados que oferecem os seus serviços (incluindo essas variantes de jogos não regulamentadas) numa determinada jurisdição, e permite uma oportunidade sob essa regulamentação de garantir-se também a proteção dos consumidores.
APAJO: Muito obrigado, Thinus, por estas explicações muito conclusivas.
TV: Obrigado a si, Anne-Marie, por me ter recebido.